Miss chamada de 'macaca' por vizinha no Dia da Consciência Negra diz que sofre perseguição há anos: 'Foi o meu limite'
22/11/2024
Ao g1, Lenita Dellary contou que idosa de 66 anos já a acusou de furto duas vezes. Caso é investigado pela Polícia Civil. Miss Jaboatão dos Guararapes, Lenita Dellary, denunciou racismo de vizinha que a chamou de "macaca"
Arte/g1
"Foi o meu limite". É assim que a modelo Lenita Dellary descreve o momento em que decidiu denunciar a vizinha de 66 anos que a chamou de "macaca" na quarta-feira (20), Dia Nacional da Consciência Negra. Ao g1, a atual miss de Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife, disse que é vítima de perseguição e alvo de ofensas racistas há, pelo menos, dois anos.
"O dia é muito importante para nós sobre essa questão da consciência negra. Foi importante por ser um feriado nacional. Mas, na hora, eu estava exausta já, estava cansada de tanta perseguição. E de ninguém responder ou intervir. Então pensei: 'É o basta, agora é o meu limite'. Foi o meu limite de tantos anos ela estar me perseguindo", afirmou a modelo.
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Imagens gravadas pela vítima mostram a idosa, identificada apenas como Nazaré, seguindo em direção à porta da casa da modelo e gritando: "Aprenda a morar em edifício, porque eu moro aqui há sete anos e nunca aconteceu nada. Macaca! Parece uma macaca!” (veja vídeo abaixo).
Idosa chama miss Jaboatão dos Guararapes de "macaca"
O caso é investigado pela Delegacia de Piedade. O g1 tenta contato com a defesa da mulher que agrediu a modelo.
Lenita mora, há quatro anos, num condomínio localizado no bairro de Piedade, em Jaboatão. Segundo a modelo, a agressora começou a brigar com ela dizendo que a modelo não varria o local onde a mãe da jovem cultivava plantas. Depois, acusou a miss de furtar um sutiã e algumas moedas.
"Ela começou a me chamar de sebosa por não ficar varrendo três vezes ao dia o local das plantas. Daí foi quando começou a alegação de que eu tinha furtado o sutiã dela e, após isso, no dia do concurso de Miss Jaboatão, ela disse à minha mãe que tinha me visto entrando no apartamento dela e furtando as moedas dela, sendo que eu estava na academia ensaiando para a passarela com uma amiga minha", contou Lenita.
A vítima também disse que a idosa espalhou as falsas acusações para os outros vizinhos do prédio. A modelo também contou que, na época, chegou a conversar com a filha da vizinha sobre o assunto.
"A filha dela chegou para mim e disse: 'Chame a polícia. Se isso ocorrer, chame a polícia'. Só que aí não tínhamos provas, vídeos, para poder chamar a polícia. [...] E a filha dela falou assim: 'Ah, não sei o que está acontecendo com a minha mãe'. Não tem cabimento eu furtar o sutiã de uma pessoa idosa. Não tem fundamento isso, a não ser o racismo", afirmou a miss.
Ainda de acordo com a modelo, apesar da conversa, nenhuma providência concreta foi tomada para mudar a conduta da vizinha. "Acho que existiam os dois lados. Tanto 'vou lavar minhas mãos, não tenho o que fazer' quanto 'denuncia aí porque ela é isso mesmo'", comentou.
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Vaso de planta causou discussão
Segundo Lenita, a discussão no Dia da Consciência Negra começou por causa de um vaso de planta que caiu na sacada do apartamento da vizinha. A jovem disse que, quando ouviu a idosa reclamar no imóvel ao lado, a mãe dela a orientou a filmar com o celular.
"A gente ouviu um barulho, ela reclamando, e minha mãe disse assim: 'Grave porque ela vai te acusar'. Dito e feito. Ela começou a me acusar de ter derrubado essa planta. Comecei a gravar e ela ficou um pouco estressada. Ela disse: 'Vou puxar as câmeras'. E eu falei: 'Puxe, não fui eu'. Quando comecei a gravar, fiz uma cara de questionamento e foi quando ela me chamou de macaca", contou a modelo.
A miss falou também que, ao longo dos últimos anos, ignorou as ofensas por se tratar de uma idosa, mas, após o último insulto, decidiu ir atrás de justiça.
"Racismo não tem idade. Ela teve essas falas. Ela disse que estava com ódio. Ela tinha ódio de mim. Por que, não sei. [...] Fui atrás de justiça para que ela pudesse pagar pelas palavras que ela tinha, porque não fiz nada com ela. Se eu ignorasse, ia continuar, e coisas piores aconteceriam comigo. Ela poderia muito bem partir para a agressão", afirmou Lenita.
Vítima leva provas à delegacia
Dois dias depois de registrar um boletim de ocorrência, Lenita Dellary voltou à delegacia na manhã desta sexta-feira (22). Em entrevista à TV Globo, a advogada Jéssika Britto, que representa a vítima, disse que a modelo procurou novamente a polícia para apresentar provas e complementar o depoimento que deu quando fez a denúncia.
"No dia do fato, no dia 20, como as delegacias do local onde aconteceu estavam fechadas por causa do feriado, prestamos a queixa. E hoje trouxemos as provas. Temos os vídeos, os áudios, que informam que a agressora está tentando fugir, está querendo entregar o apartamento e ir embora", disse a advogada.
Segundo Jéssika Britto, a idosa é investigada pelos crimes de injúria racial e calúnia.
"A agressora cometeu o crime de injúria racial, que está tipificado no artigo 140, parágrafo terceiro, o qual, no ano passado, foi equiparado ao crime de racismo, aumentando a pena. Então, ela pode pegar agora até cinco anos de prisão. [...] Além disso, o crime de calúnia, porque ela caluniou a vítima diversas vezes, não diretamente só para a mãe dela [de Lenita], mas para toda a vizinhança", explicou.
Veja, no vídeo abaixo, como denunciar casos de racismo:
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